Completando 33 anos de estrada em 2021, a banda norte-americana lança seu 15º disco de estúdio pela Metal Blade em 16 de abril. Conversamos com o baixista Alex Webster sobre a gravação do disco, a entrada oficial do produtor Erik Rutan para a banda no lugar de Pat O’Brien, censura, o impacto da pandemia e mais.
O último post de vocês nas redes sociais em 2019 agradecia aos fãs pelo ano e anunciava a entrada em estúdio para a composição de um novo disco. Isso sugere que 2020 já teria menos planos de shows, colocando o Cannibal Corpse em uma posição de sorte se comparado a outras bandas, que tiveram que cancelar turnês inteiras. Qual era a programação da banda?
Bem, nossa ideia inicial era lançar Violence Unimagined em novembro de 2020, então provavelmente faríamos uma turnê para o lançamento, mas antes mesmo de começarmos a gravar, já ficou claro com a pandemia que isso não aconteceria. Mas, sim, muitas bandas precisaram fazer mudanças drásticas em seus planos, enquanto nós havíamos nos programado para ficar em casa praticamente o ano todo.
Uma das consequências da pandemia foi que você não pôde se juntar à banda e gravou o baixo em casa. Houve mais algum contratempo?
Acho que para os caras lá na Flórida teve um dia em que alguém não conseguiu chegar no estúdio porque tinha um protesto bloqueando a rua, mas acho que o maior contratempo foi o fato de eu não poder estar lá com eles. Porque, no geral, se eu estivesse, não estaria só gravando minhas partes. Eu gosto de participar da gravação dos outros instrumentos quando é alguma música que eu escrevi. Como eu não estava presente, eles me mandavam tudo em mp3 quando terminavam. Deu tudo certo, mas foi bem diferente.
Para mim, é tranquilo gravar em casa e estou bem satisfeito com os resultados. Nos meus projetos paralelos com o Conquering Dystopia e o Blotted Science eu gravei minhas partes em casa e ficou muito bom, então eu sabia que não seria um problema.
Eu não queria estar lá apenas para gravar o baixo, queria estar lá para participar do álbum por inteiro. Não preciso estar lá o dia todo e nem todos os dias, mas quando os caras estão trabalhando em uma das minhas músicas, sabe? Não foi a situação ideal. Se alguém tem uma dúvida, é muito mais fácil sair da técnica e me chamar no sofá para perguntar “Ei, Alex, aqui é lá ou lá bemol?” ou qualquer outra coisa. Foi mais complicado fazer isso por e-mail ou telefone, mas a gente deu um jeito.
Nesse momento, fomos interrompidos pela cachorra do Alex, latindo para estranhos que passavam na rua.
Vocês já têm uma relação de amizade com o Erik Rutan há bastante tempo, além de terem trabalhado com ele como produtor várias vezes. Mas como foi a situação de ter um produtor, que muitas vezes tem o papel de colocar pressão na banda ou fazer críticas, agora como membro da banda?
A dinâmica não mudou muito, pois Erik é duro consigo mesmo tanto quanto é com os outros e ele já tem todas essas responsabilidades no Hate Eternal. Muito mais. Afinal, naquela banda ele é o guitarrista, vocalista, compositor e produtor. Então sabíamos que ele daria conta. Acho que ele trabalhou até ainda mais [do que se estivesse apenas produzindo]. Até onde eu sei, ele estava gravando a si mesmo. Acho que seu assistente, Art, ajudou em alguns momentos, mas no geral ele gravava sozinho. Quando você faz isso, é importante que seja seu maior crítico. Foi como eu fiz aqui: eu mandava para eles versões completas das músicas, sabendo que eles não precisariam me pedir para corrigir um monte de coisa. Mudei uma ou outra coisa, mas gastei bastante tempo tentando deixar tudo perfeito e sei que Erik fez isso também.
Quando você é seu próprio produtor, você se torna extremamente autocrítico. Isso toma tempo, pois não tem ninguém para dar uma segunda opinião, alguém que diga “cara, está ótimo, vamos para a próxima”.
Como a banda fez para relaxar e se distanciar do processo de gravação em momentos de folga, sendo que em muitos locais havia restrições de lockdown?
Eu tenho a sorte de morar em um lugar não muito populoso e tenho bastante área verde ao meu redor, parques… e gosto de correr. Então é algo que eu venho fazendo esse tempo todo. Pego minha máscara, me distancio das pessoas, escolho a rota mais vazia, e é assim que começo meu dia.
Também levo a cachorra para passear, seguindo os mesmos protocolos. Saio de máscara, atravesso a rua se vejo alguém. Aqui é bem tranquilo, consigo imaginar que em Nova York ou São Paulo ou qualquer lugar muito populoso seja bem mais difícil. Não sei o que os outros caras fizeram, mas eu fiz isso e também fui fazer trilhas com minha esposa.
Pandemia ou não, acho essas coisas muito importantes. Você fica oito, dez horas olhando para a tela do computador e aí passa a sonhar com o ProTools. É importante desligar tudo.
Falando nisso, a banda ficou longe das redes por cerca de sete meses e, quando voltou, fez uma publicação sobre merch. Muita gente ficou feliz, mas algumas pessoas ficaram desapontadas por não encontrarem um post falando sobre o disco novo. Como você vê esses extremos?
Na verdade eu não uso o Facebook, uso um pouco o Twitter e não posto muito. Instagram, eu tenho, mas não uso. Não tenho os aplicativos instalados no meu telefone já faz anos. Estamos tão distraídos só com mensagens de texto que já dá para passar o dia todo ocupado. Além disso, ler comentários nem sempre é uma boa ideia. Minha esposa é quem me conta o que as pessoas falam nas redes. Ela passa mais tempo online do que eu.
Sabíamos que as pessoas teriam expectativas em relação ao álbum e poderíamos tê-lo lançado antes, mas queremos fazer uma turnê desse disco e esperamos que seja possível dentro de doze meses. Não temos como saber, mas esperamos poder tocar em 2022. Se lançássemos o disco antes, o espaço de tempo entre ele e a primeira turnê seria ainda maior. Quando percebemos que a data inicial [de novembro de 2020] não era mais o prazo, desaceleramos e começamos a fazer as coisas com mais calma no estúdio, e acabamos com essa nova data, para abril.
Acho que a estratégia do nosso time também passa pela ideia de que, se não há muito a ser dito, é melhor ficar em silêncio, e quando finalmente estivermos prontos para um lançamento, aí sim iniciamos a divulgação. Se você começa a falar de um disco quase um ano antes de ele ser lançado… não me parece interessante. Agora, temos o single lançado há algumas semanas e o álbum vindo em abril. As pessoas não precisarão esperar muito. Se tivéssemos lançado o single em outubro, será que as pessoas ficariam empolgadas até abril?
A quantidade de merch que vocês têm é inacreditável. Só para o disco novo, são mais de 15 cores diferentes de LPs em edição limitada, além de acessórios como luvas, máscaras e uma garrafa d’água. Quão importante é o merch para vocês? A pandemia mudou isso, já que não há como manter-se financeiramente com shows?
O merch sempre foi grande parte da nossa renda, sempre foi algo importante para nós. Já tínhamos lançado bastante coisa para o disco anterior, Red Before Black, e sempre temos essas artes fantásticas de Vince Locke. Também trabalhamos com empresas muito boas ao longo dos anos, e todas as empresas com as quais trabalhamos no mundo inteiro sempre fizeram um material de primeira qualidade. Elas têm um ótimo ponto de partida com o qual trabalhar, a arte que Vince faz é parte integral da estética e apresentação visual do Cannibal Corpse, e sempre foi ao longo de toda nossa carreira. Ele nos deu duas capas excelentes que serão ótimas para camisetas e todo o resto.
Sobre as duas capas, bandas que já lidam com censura, como o Cannibal Corpse desde o início dos anos 1990, parecem se preparar melhor para essas questões. Você acha que a censura e o conservadorismo, ao invés de diminuírem, vêm ganhando força nos últimos cinco anos?
Como você disse, estamos lidando com isso há décadas. Desde Tomb of the Mutilated, em 1992, passamos a fazer duas capas devido à quantidade de problemas que tivemos com Butchered at Birth, no ano anterior. Estamos preparados pois isso nunca deixou de acontecer. Vai ser algo tido como ofensivo, especialmente se você não entende o ponto de vista da banda. Não queremos incentivar a violência, enxergamos nosso trabalho como “ficção de terror”, assim como as pessoas que escrevem contos ou filmes.
Tivemos problemas durante toda nossa carreira. Muitos na Alemanha, mas também na Coreia do Sul. Tivemos um show cancelado na Guatemala em 2018 durante nossa turnê com o Napalm Death e problemas da última vez em que tocamos na Rússia… mas, para nós, faz parte. Não vamos nos limitar. Esse tipo de problema é algo que vemos regularmente e tentamos estar preparados, mas às vezes acontece algo e não há nada que você possa fazer, como esse show na Guatemala. Já estávamos lá. Se já tinham planos de fazer isso, eu preferiria que tivessem cancelado antecipadamente. Assim, os fãs poderiam ter se organizado para assistir ao show em El Salvador. Muitos fizeram isso. Os ingressos foram válidos lá, mas são coisas que acontecem de repente, para que não possamos encontrar uma alternativa. A mesma coisa na Rússia: se vão encrencar, que falem antes de chegarmos lá.
Em 2014, a banda faria uma série de shows na Rússia, mas devido a protestos da Igreja Ortodoxa, quase todos foram cancelados. Além disso, um show em São Petersburgo foi cancelado no último minuto, e o show de Nizhny Novgorod foi interrompido e encerrado pela polícia local.
O Cannibal Corpse parece ser uma banda muito disciplinada, com uma política de não beber antes dos shows e sempre entrar em estúdio preparada para gravar. Em entrevistas, você fala sobre como tenta ser “uma pessoa fácil de trabalhar”. Você acha que esse foco e profissionalismo são o segredo para a banda estar na ativa há tanto tempo, mesmo com a censura e outros problemas?
Voltando à questão da censura, as pessoas que não gostam da gente, não conhecem a banda. Se fizerem esse esforço, talvez mudem de opinião. Não acho provável, mas talvez seja possível.
Mas é verdade que temos uma ética de trabalho muito boa e sabemos que é um privilégio poder tocar nosso gênero musical favorito e viver disso. Então, nos dedicamos por completo. Não queremos desperdiçar essa oportunidade. Somos muito agradecidos aos nossos fãs, que nos proporcionaram essa carreira de mais de 30 anos. Se penso em quem eu era aos 19 anos e que ainda estou fazendo isso aos 51, é realmente difícil de acreditar. É uma oportunidade maravilhosa e trabalhamos para aproveitar isso totalmente. Muitas bandas, por uma ou outra razão, não tiveram a nossa sorte. Para mim, se você tem essa sorte, não deixe de aproveitar. Trabalhe duro, leve isso a sério e seja profissional.
Além de Flea descobrir o Cannibal Corpse, aconteceu mais alguma coisa inesperada durante a pandemia?
Bom, isso foi demais. Mas não lembro de mais nada além. Para mim, como baixista, ver Flea, um cara que acho fantástico, descobrindo nossa banda, foi muito legal. A reação dele aparentemente foi positiva, então achei muito bom. Como eu disse, ele é um herói do baixo. O cara toca muito, então foi muito inesperado e legal ver ele descobrindo a gente em público e falando bem da banda.
A pergunta obrigatória: vai acontecer um livestream desse álbum?
Não imediatamente. Talvez no final do ano. Ainda estou do outro lado do país, e não sabemos se é uma boa ideia agora, sem a vacina. Por questões de segurança, prefiro esperar um pouco. Além disso, estamos trabalhando em outras coisas que podem acontecer caso não seja possível fazer turnês em 2022.
Se pudéssemos afirmar com certeza que estaremos na estrada em fevereiro de 2022, definitivamente não faríamos um livestream, pois não é nosso jeito de fazer as coisas. A gente prefere fazer um show em um clube, com os fãs. É assim que nos sentimos confortáveis, mas pode ser que aconteça.
Entrevista: Maya Melchers
O Merchandise Oficial e Licenciado do Cannibal Corpse está disponível no Brasil somente na www.HSmerch.com.