/Scott Radinsky, do Pulley, relembra momentos importantes da carreira

Scott Radinsky, do Pulley, relembra momentos importantes da carreira

O vocalista conta à HS Press o que anda fazendo e recorda momentos importantes na história dessa excelente banda do skate punk californiano.

O prazer de tocar, e não uma cartilha para o sucesso, é o que guia o Pulley desde seu surgimento, em 1994, depois que Scott Radinsky foi convidado a sair do Ten Foot Pole, sua antiga banda, por não conseguir estar em tempo integral no grupo (além de músico, ele era jogador de beisebol profissional). Após conseguir se livrar de um linfoma de Hodgkin pouco tempo depois, o vocalista parece ter percebido que diversão é uma das coisas mais importantes da vida. Sem esse elemento, o Pulley não existiria até hoje. Reunir os músicos da banda tem sido muito difícil durante esses tempos em que a única turnê que acontece é a do COVID-19, mas músicas o suficiente para completar um álbum já foram compostas com a banda em modo remoto.

Como está sua vida durante a pandemia? O punk rock, de alguma forma, ajudou você a sobreviver nestes tempos?

Durante a pandemia a vida tem sido um desafio, com certeza. Durante um tempo as coisas ficaram paradas, mas também tem sido bom estar em casa e ter uma rotina diária consistente, algo que não estou muito acostumado a ter. A música tem sido uma grande válvula de escape. Escrever e me reconectar com bandas antigas que eu não ouvia há muito tempo me dão alguma inspiração para pegar a guitarra e tocar.

Como está o Pulley nesse momento? Você tem escrito músicas? Existe algum plano para lançamentos futuros?

Eu diria que o Pulley está no piloto automático. Todo mundo tem feito suas próprias coisas, com suas famílias e trabalhando em casa. Conseguimos escrever praticamente um álbum inteiro durante esse período de inatividade, enviando músicas uns para os outros e contribuindo remotamente de nossos estúdios caseiros. 

Pulley no centro de Los Angeles

A turnê que vocês fizeram com o Dead Fish em 2003 foi algo memorável para o público brasileiro. Foi uma das mais longas turnês por aqui: treze shows em catorze dias. Quais são as suas memórias dessa turnê e, se pudesse mudar alguma coisa nela naquela época, o que seria?

Em primeiro lugar, eu não queria mudar nada naquela turnê a não ser torná-la mais longa do que foi. O Dead Fish e toda equipe da Highlight Sounds foram pessoas incríveis, e foi muito divertido viajar e tocar todos os dias. Graças ao Dead Fish, a turnê foi um sucesso total, e todos os shows foram ótimos. Tivemos muita sorte de ter a oportunidade de ir e fazer parte de uma turnê de tanto sucesso. Memórias duradouras e amizades que duram até hoje. Foi uma grande experiência.

O Pulley parece ser uma banda guiada mais pela diversão de tocar e escrever juntos do que pelo que o mundo vai pensar sobre a banda. Você acha que esse é um dos segredos da longevidade do Pulley?

Com certeza! Seguir a abordagem que adotamos nos permitiu ter a chance de ainda fazer o que fazemos. Escrever e tocar ao vivo é o que todos nós queremos e gostamos de fazer. Às vezes, quando as bandas são forçadas a compor e sair em turnês, o relacionamento pode ficar muito tenso, e coisas ruins podem acontecer, como mudanças constantes de membros, e bandas que se separam devido ao estresse de tentar sobreviver financeiramente. Desde o início, olhamos para isso como algo para nos divertir, sem enfatizar quão populares ou grandes ficamos. Nunca pensamos nisso como um projeto, mas como uma maneira de continuar a tocar, compor e gravar sem estresse. Contanto que fazer turnês e tocar ao vivo se encaixem na programação de todos, nós fazemos isso acontecer. Até agora, por mais de 25 anos, a gente tem conseguido manter tudo isso dessa forma, então é definitivamente uma fórmula que funcionou, e vamos continuar assim.

Radinsky no arremesso

Muito se tem falado sobre seu tempo com os Los Angeles Dodgers. Em comparação, o que você vê em comum entre estar no campo e no palco?

Estar no campo é semelhante a estar no palco no sentido de que há uma sensação de equipe nas duas situações. O beisebol é muito diferente da libertação de estar no palco tocando com amigos. A música não é tanto vida ou a morte. É mais divertida. O beisebol também é divertido, mas de uma maneira diferente. Nos esportes profissionais, a coisa toda é sobre ganhar, então perder não é realmente uma opção. No palco, quando alguém toca uma nota errada, geralmente apenas rimos disso e seguimos em frente.

Em uma entrevista de 2014 para o site Community Digital News, você disse que seu disco favorito do Pulley é Matters. Isso ainda é verdade? O que torna este álbum especial para você?

Matters

Matters é um disco especial para mim pelo fato de estarmos todos juntos durante a maior parte da composição. Todos contribuíram no processo. Senti que as músicas eram consistentemente fortes ao longo do álbum e a produção foi levada a um nível superior. No que diz respeito à composição, definitivamente evoluímos e tivemos um melhor entendimento de como escrever música em torno dos vocais ao invés de riffs que soavam bem, mas eram difíceis de cantar às vezes. Nós nos juntamos como uma banda durante esse processo, e isso nos ajudou com novos lançamentos, tanto em nossa musicalidade quanto em nossas habilidades de composição. Temos muito orgulho desse disco.

Em uma entrevista de 2018, li que Alive II, do KISS, foi o álbum que você mais ouviu. Acredito que grande parte da nossa busca na arte é reviver emoções semelhantes às que sentimos quando ouvimos um disco pela primeira vez. Você acha que conseguiu transmitir essas emoções e marcar a vida dos fãs do Pulley com sua música?

Alive II

Gosto de pensar que o impacto de certas gravações ou músicas do Pulley vão afetar alguém como me afetou naquela época da minha vida. Com o KISS, foi toda a presença da banda, a maquiagem, roupas, etc. Foi uma grande produção, e a música da época era muito impressionante para mim. O segredo ao escrever músicas ou letras é fazer com que isso afete a todos de maneiras diferentes. Às vezes sinto que, quando diferentes pessoas extraem sentimentos diferentes de uma música, alcançamos o que não é previsível. Algumas letras têm direção e significado definidos, outras são deixadas abertas para interpretação, que é o que sempre tento fazer: deixar que quem ouça tire da música o que deseja. É o que eu sinto que é o sucesso.

O heavy metal tem levantado a questão da falta de renovação de ídolos dentro do estilo. Você acha que isso acontece na cena punk também? Como você acha que o gênero vem se renovando?

Em geral, a música tem ficado muito saturada com o acesso aos meios de comunicação e internet nos últimos vinte anos. É muito difícil ser original. As bandas que têm um som diferente geralmente permanecem perto daquilo que já conhecem e não se arriscam a se distanciar da sonoridade que as fez famosas. Pessoalmente espero ouvir um certo som de certas bandas e espero que as composições continuem a ser interessantes o suficiente para que eu queira continuar a ouvi-las. Renovar sempre será um desafio para todas as bandas e cenas, mas também acredito na teoria de que “se não está quebrado, não conserte”.

O Pulley tem tocado algumas músicas do Ten Foot Pole nos últimos anos. Como está seu relacionamento com a banda agora?

Tocamos algumas músicas que escrevi durante meu tempo no Ten Foot Pole. A gente nunca tocou com eles desde 1995, então realmente não existe muito um relacionamento entre as duas bandas.

Chegou a hora do “Meu disco, minha vida”. Que registro é esse e por que é o registro da sua vida?

Esta é uma pergunta que eu adoraria ver alguém responder. É quase impossível restringir todos os gêneros e discos que tenho e escolher um. Eu nunca conseguiria fazer isso. Tenho alguns discos que tiveram um impacto em mim, e geralmente é o humor do momento que determina o que eu ponho para tocar. Tenho um gosto musical tão amplo que posso ouvir jazz por um dia inteiro; no dia seguinte, Propaghandi ou Lagwagon; e algum rock clássico dos anos 70 no terceiro dia. Se eu estiver preso em uma ilha deserta, vou levar toda a coleção de discos!

Entrevista: Vinicius Castro. Fotos (Pulley): Eden Kittiver.

O Merchandise Oficial e Licenciado do Pulley está disponível no Brasil somente na www.HSmerch.com