/Pixies: 30 anos de Trompe Le Monde, o disco que antecedeu a separação.

Pixies: 30 anos de Trompe Le Monde, o disco que antecedeu a separação.

Em setembro de 2021, Trompe Le Monde completa 30 anos desde seu lançamento. O quarto álbum de estúdio foi o último antes da separação do Pixies e representa uma visita honesta do vocalista e compositor Francis à sonoridade clássica que tornou o grupo conhecido no fim dos anos 1980 em meio a gigantes do mainstream da época como Guns N’ Roses e Van Halen.


Grazi Galvão

  A formação original do Pixies era composta pelos jovens Joey Santiago e Charles Thompson, mais conhecido como Black Francis. Os dois jovens universitários, que frequentavam a universidade de Massachusetts em Boston em meados de 1986, decidiram levar as breves sessões de música que faziam juntos para um galpão onde podiam trabalhar mais a sério. 

  As maiores influências de Santiago e Francis eram o Hüsker Dü e o grupo de música folk Peter, Paul and Mary. A dupla espalhou anúncios pelas redondezas da cidade à procura de uma baixista para integrar o grupo e o requisito era basicamente gostar dessas duas bandas. A jovem Kim Deal foi a única que se interessou pela vaga. Ela não sabia tocar baixo mas a identificação musical foi certeira. Com a entrada de Kim na formação, veio também o baterista David Lovering, um conhecido de Kim.

Mais tarde, a banda foi descoberta pelo produtor Gary Smith, dono do estúdio Fort Apache, onde o Pixies gravou sua primeira compilação de demos – Conhecida como Purple Tape

  A descoberta do produtor fez com que o mesmo afirmasse que “Não poderia dormir até o Pixies ficasse famoso no mundo todo”. A primeira fita demo do Pixies acabou chegando às mãos do produtor britânico Ivo Watts-Russell, da gravadora indie 4AD e a banda só conseguiu um contrato com o mesmo por insistência da namorada do produtor. Com isso, o Pixies lançou seu primeiro EP: Come on Pilgrim, em outubro de 1987. O trabalho na primeira experiência com a gravadora foi marcado por letras influenciadas pela viagem de Francis a Porto Rico e sua criação dentro de uma família cristã.

  A partir desse ponto, o quarteto trabalhou duro para lançar, no início de 1988, seu primeiro álbum: Surfer Rosa, gravado por Steve Albini, um dos braços da gravadora 4AD. ‘Where’s My Mind’ e ‘Brick is Red’’ foram as faixas mais populares do trabalho e um grande sucesso de crítica na mídia europeia, principalmente da Grã-Bretanha em 88. No final do mesmo ano, o Pixies retornou aos Estados Unidos após uma série de shows na Europa para assinar com a Elektra Records, sob influência do produtor britânico Gil Norton que deu seu toque para que o trabalho seguinte da banda, Doolittle mantivesse o sucesso em 1989.

  No palco, eram constantes os episódios de conflitos entre Black Francis e Kim Deal. Em um deles, Francis arremessou uma guitarra em Deal. Kim chegou a se recusar a tocar algumas vezes com a banda após os ocorridos e com isso, os integrantes chegaram a cogitar sua demissão, o que curiosamente acabou não ocorrendo. A baixista sempre teve uma forte influência no estilo musical do quarteto: Barulhento, um pouco punk e ao mesmo tempo com toques de rock clássico. O final da era Doolittle marcou o momento no qual os integrantes decidiram pausar suas carreiras para um período  de férias, exceto Francis, que decidiu focar em projetos solo.

  No começo dos anos 1990, a banda (exceto Kim Deal) se mudou para Los Angeles. Black Francis colocou muita energia em novas composições. Algumas de suas letras saíam poucos minutos antes das gravações em estúdio e muitas delas eram escritas em guardanapos.

  Bossanova saiu no mesmo ano e alcançou um bom número de vendas nos Estados Unidos. A banda se comprometeu com uma agenda cheia para a turnê de divulgação do álbum e ainda sim encontrou energia para gravar Trompe Le Monde em 1991, ainda sob controle do produtor Gil Norton.

  A sensação que Trompe Le Monde passa aos fãs de Pixies é a da clássica volta às raízes, com uma sonoridade mais abrasiva e pesada. As críticas eram boas, mas nos bastidores, os conflitos entre Kim e Francis não davam sinais de trégua. Os problemas entre os dois causaram a decisão de separação enquanto a banda abria para o U2 durante uma turnê em 1992.

  Com poucas colaborações de Kim Deal, o disco tornou-se um trabalho bastante influenciado pelas decisões de Francis, mas ainda sim, totalmente tragável pela crítica. A influência do último trabalho antes da separação e o último com a participação da baixista original é imensurável. Kurt Cobain, do Nirvana, escreveu ‘Smells Like a Teen Spirit’ com a intenção de soar como o PixiesTrompe Le Monde contém um cover de “Head On” do Jesus and Mary Chain, o que tornou o álbum conhecido pela releitura da canção e também do videoclipe, que era transmitido incansavelmente na MTV naquela época.

  Muito se especula que Trompe Le Monde foi um resgate de idéias muito bem guardadas da primeira demo do Pixies, a Purple Tape. A faixa ‘Subbacultcha’ por exemplo, foi supostamente uma canção não escolhida para entrar no primeiro trabalho da banda gravado em 1987.

  Considerado por alguns quase como um trabalho solo de Francis, o álbum também pode ser descrito como um dos mais melódicos do Pixies, no qual o líder da banda conseguiu unir a atmosfera surrealista com as guitarras sujas e barulhentas de Surfer Rosa e Doolittle. Essa estética sonora foi completamente absorvida pelo grunge, que paralelamente ganhou grande notoriedade na época do lançamento de Trompe Le Monde

  A recepção desse, que infelizmente foi o último disco da banda antes da separação, foi notável e importante para e época, ainda que disputasse espaço com sucessos do mainstream e surgimento de gêneros e sub-gêneros totalmente distintos ao que o Pixies pregava em suas músicas.

  Trompe Le Monde trouxe uma proposta única e inédita para os padrões da década de 1990, criando um legado próprio, além de pavimentar a estrada para medalhões do rock alternativo como o Smashing PumpkinsRadioheadArcade Fire e até mesmo o cantor James Blunt.

A influência do Pixies e do álbum Trompe Le Monde em muitas vertentes do rock alternativo não se limitou apenas ao sucesso do Nirvana ou do Soundgarden. Ainda na metade dos anos 1990, o gênero voltou com força e revelou bandas como Smashing Pumpkins e Weezer que se estendeu até os anos 2000 com o The Strokes.

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